30 de maio de 2013

Repostagem: Bens Incalculáveis

Hey!
Pela receptividade que tive com esse gênero textual, e por ter percebido que muitos leitores gostaram de histórias narrativas, estou me arriscando novamente a tentar dessa forma.
Esse texto eu me inspirei na leitura do livro "O Vendedor de Sonhos e a Revolução dos Anônimos", do autor Augusto Cury, que, aliás, é citado no conto abaixo e eu já indiquei em uma das sessões "Hey Ho, Let's Go". 
Se eu ver que está dando certo, planejo um projeto futuro...

Eu me considero a mendiga mais rica do mundo. Bom, eu não sou bem uma mendiga, uma pessoa que não tem nada nem ninguém no mundo, nenhum bem material ou qualquer coisa do tipo. Eu talvez seja mais uma andarilha do que uma mendiga. Mas isso não importa.
Eu tive tudo que uma mulher pode desejar e sonhar: uma mansão quitada, sem contar outros imóveis que meu marido me dava. Joias. Carros importados. Cartão de crédito ilimitado para gastar fortunas em shoppings. Viagens para Europa e afins todos os anos.
Nunca precisei estudar, pois sempre minha mãe me dizia que valia mais a pena encontrar um marido que me sustentasse. Ouvindo-a, me casei aos 19 anos com um empresário de 40.
Tornei-me uma princesa, depois em uma rainha, mas acabei como plebeia.

Sempre soube que meu casamento era uma fachada, mas não me importava. Eu dava para meu marido o que ele queria, e ele me dava o que eu queria. Por um tempo nos contentávamos com essa mentira diária. Pelo menos eu. Depois de 16 anos de casada, descubro que meu marido estava tendo um caso com outra mulher de 25 anos. Fiquei abalada, e, mesmo que eu não realmente o amasse como meu "amor da minha vida", com o tempo, aprendi a gostar dele e sentir uma pontada de felicidade por estar ao lado dele. Por isso, fui conversar com ele, tentar nos acertar e fazer com que continuemos juntos.
Ele me xingou de todos os nomes possíveis e imagináveis. Taxou-me de mercenária e disse que eu tentava fazer com que ficássemos juntos por causa do dinheiro dele. Com isso, fui enxotada de casa, sem destino certo e com apenas a roupa do corpo. Minha mãe já estava morta há alguns anos, e meus outros parentes moravam do outro lado da cidade. Ainda que tivesse algum dinheiro, não sentia vontade de ficar com ninguém. A dor da humilhação me destruiu, e me trouxe ao destino que tenho hoje.

Perdi meus amigos, me afastei de minha família, e os únicos companheiros que tinha eram os livros e jornais que encontrava pelas ruas e bibliotecas, quando me deixavam entrar. Tornei-me uma pessoa sedenta, sedenta de livros, cultura e informação. Dentre essa minha incessante sede, e em minha tentativa constante de saciá-la, notei um encontro de famílias no parque do Ibirapuera. Pelo que percebi de longe, era aniversário de um dos garotos, um adolescente de não mais que 15 anos. 
Estavam todos o rodeando, e cada um dos familiares se levantava, lhe entregava o presente e falava alguma mensagem ou algo do tipo. A expressão de infelicidade e tédio ao receber alguns presentes me surpreendia. Ao receber roupas, o garoto agradecia e simplesmente jogava para o lado em cima da pilha de presentes. E entre os convidados, um amigo dele de óculos com idade quase igual lhe deu um saco de presente retangular. Já imaginava o que seria para a idade deles: um jogo de videogame.
Mas o presente me surpreendeu, e a reação do aniversariante mais ainda.

Ao abri-lo, a expressão de raiva no garoto se tornou clara. Ele havia ganhado um livro,e por isso começou a gritar e humilhar publicamente o amigo, falando que sequer deveria ter convidado ele e que ele era um estúpido por dar um presente idiota desses. Com isso, foi na direção de um lixo próximo que havia por lá, e o jogou com o maior desprezo.
Apenas fiquei observando essa cena, e depois que todos os parentes e amigos se retiraram do local, inclusive o aniversariante, peguei o livro, e, devo confessar, foi um dos melhores livros que li, principalmente por ter um trecho dele que me marcou, e me lembro (e guardo) até hoje:

"O dinheiro compra ansiolíticos, mas não a capacidade de relaxar. Compra bajuladores, mas não os ombros de um amigo. Compra joias, mas não o amor de uma mulher. Compra um quadro de pintura, mas não a capacidade de contemplar. Compra seguros, mas não a habilidade de proteger a emoção. Compra informações, mas não o autoconhecimento. Compra lentes de contato, mas não a capacidade de ver sentimentos não expressos. O dinheiro compra um manual de regras para educar quem amamos, mas não compra um manual de vida"

 Isso resume minha vida. Eu sempre tive tudo, mas só depois que perdi tudo, percebi o quão eu era vazia. 
Quando me interiorizei para me tornar alguém culta, foi que aprendi o que realmente tem valor na vida, e que todos esses bens não podem ser comprados por dinheiro algum nesse mundo. Apenas podem ser adquiridos com experiência e tempo de vida.

Pena que essa minha descoberta se deu tarde demais para mim.
Texto inicialmente postado no Reflect About!

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